domingo, 24 de março de 2013

Un peu d'insécurité. Some insecurity. Um pouco de insegurança.

Qui n'a jamais pensé à se suicider? C'est très difficile de traiter avec d'autres personnes. Je veux mourir quand j'entends des choses comme «Tu ne peux pas le faire - parce que tu vis dans la société». Vous n'êtes jamais assez beau, au contraire, vous êtes moche. Tu n'es jamais assez cool. Tu n'es jamais assez drôle. Vous manquez tout le temps et vous subissez des conséquences pour cela. Vous essayez d'intégrer et tout le monde tient à dire que vous n'appartenez pas, que vous n'êtes pas accepté. Dans le sexe, dans les amitiés, dans l'amour et dans la famille. Vous vous sentez mal, essayez de le réparer et vous perdez-vous. Vous ne vous perdez pas et vous trompez-vous. Tu ne t'en soucies plus et vous devez entendre que vous «vivez dans la société». Vous ne vous souciez plus et les gens sont offensés avec vous. Vous vivez dans la société et ils mettent un point d'honneur à vous montrer à quel point vous êtes inapproprié. Ils te font du mal, ils te maltraitent jusqu'à ce que tu te soucies à nouveau. N'était-ce pas plus facile de vivre? Vivre comment? Avoir à faire face à toute cette pression, avec tous ces gens?

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Who in here has never thought about killing himself? It is very difficult to deal with other people. I want to die when I hear things like "You can not do it - because you live in society". You're never handsome enough, on the contrary, you're ugly. You're never cool enough. You're never funny enough. You are wrong all the time and you suffer consequences for it. You try to integrate and everyone makes a point of saying that you do not belong, that you are not accepted. In sex, in friendships, in love and in family. You feel wrong, try to fix it and get lost. You do not get lost and you get wrong. You stop caring and you need to hear that you "live in society". You do not care and people take offense at you. You live in society and they need to point out how inappropriate you are. They harm you, they mistreat you until you care again. Was not it easier just to live? Live how? Having to deal with all this pressure, with all these people?

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Quem aqui nunca pensou em se matar? É muito dificil lidar com as outras pessoas. Eu quero morrer quando eu ouço coisas como "Você não pode fazer isso - porque vive em sociedade". Você nunca é bonito o suficiente, ao contrário, você é feio. Você nunca é legal o suficiente. Você nunca é engraçado o suficiente. Você erra o tempo todo e sofre consequencias por isso. Voce tenta se integrar e todos fazem questão de dizer que você não pertence, que você não é aceito. No sexo, nas amizades, no amor e na familia. Voce se acha errado, tenta consertar e se perde. Voce não se perde e fica errado. Voce deixa de ligar e precisa ouvir que "vive em sociedade". Voce não se importa e as pessoas se ofendem com voce. Voce vive em sociedade e fazem questão de te apontar o quanto voce é inapropriado. Te prejudicam, te maltratam até que voce se importe novamente. Não era mais fácil apenas viver? Viver como? Tendo que lidar com toda essa pressão, com todas essas pessoas?

quinta-feira, 21 de março de 2013

“Versões e Controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar” (2004) de Carlos Fico - Análise



“Versões e Controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar” (2004) de Carlos Fico - Análise

    Carlos Fico apresenta “Versões e Controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar” com uma justificativa do tema levando em consideração as comemorações recentes de períodos históricos de importância para a política nacional, decisivos ou não gratos. O autor considera também que o interesse crescente pelo período é diretamente proporcional ao desprendimento político que o distanciamento histórico possibilitou¹, o que trás novas discussões não permeadas por tabus ideológicos como por exemplo a afirmação sobre o pequeno apreço da democracia pelos atores históricos e a quebra do mito do presidente reformista João Goulart. Dessa forma, clichês sobre o golpe de 64 começam a ser abandonados em razão da nova fase de produção histórica sobre o período.
    A literatura sobre o golpe e o regime que o sucederia é marcada por dois grandes gêneros: o primeiro visava explicar e classificar as crises militares. O segundo seguiu uma vertente memorialística que foi responsável pelo primeiro conjunto de versões sobre a ditadura militar. É com a memorialística que uma série de controvérsias envolvendo as verdades históricas aceitas começam a entrar em discussão. O perfil de Castelo Branco, considerado legalista e moderado, torna-se sob a nova ótica apenas mais uma aparência derivada da benevolência dos biógrafos² e, ao contrário, sua imagem “real” surge representada por um ator que agiu conforme as conjunturas políticas e que “foi complacente com as arbitrariedades da linha dura, não teve forças para enfrenta-la e permitiu, assim, que o grupo de pressão fosse conquistando, paulatinamente, mais espaço e poder” (FICO, Carlos. 2004. “Versões e Controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar”. In: Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 24, n. 47, pág. 33), ou seja, Castelo Branco possui um perfil bem mais omisso que o clichê histórico moderado. Além disso, ele também foi responsável por sancionar e estabelecer diversos veículos censores iniciais, sendo assim, estas novas informações evidenciam que o projeto repressivo baseado numa “operação limpeza violenta e longeva estava presente desde os primeiros momentos do golpe. Isto significa que o AI – 5 foi nada mais que o amadurecimento e um processo que se iniciara muito antes³.
    A crença na “utopia autoritária” empolgava de maneira diferente os diversos grupos militares e segundo estas pesquisas foram poucos os militares e civis envolvidos diretamente em tortura e assassinato político, o que não pretende minimizar o envolvimento dos militares na repressão, mas sim refinar a análise histórica4. O posicionamento dos militares em relação à repressão violenta é um dos aspectos mais importantes dos estudos do período. A tese de que os excessos foram praticados por subalternos sem a aprovação dos oficiais chegou a ser admitida, porém ela não se sustenta para o período posterior do AI – 2 de Castelo Branco, sobretudo após a implantação do Sistema Codi-Doi (1969 em diante), que era um complexo organismo político que mesclava polícia civil, militar, bombeiros, etc e que foi responsável pelos principais episódios de tortura aceitos pelos comandantes e governos militares como uma necessidade conjuntural5.
    É necessário destacar que o anseio punitivo da linha dura não surgiu repentinamente em 1968, como uma reação a “luta armada”, esquerdista de fato, a partir do AI – 5, as diversas instâncias repressivas já existentes passaram a agir segundo o ethos da comunidade de segurança.
    A produção recente do tema abandona explicações fundadas em conceitos como classe social e estrutura econômica, buscando no lugar uma estratégia cognitiva do indivíduo e seu cotidiano. As principais teses explicativas do golpe de 1964 seguem três correntes: teorização da Ciência Política, análises marxistas e valorização do papel dos militares. Alfred Stepan, cientista político, considera que as razões para o golpe encontram-se na inabilidade de Goulart em “reequilibrar o sistema político”. Até 1964, os militares apenas transferiam o governo civil para outro grupo de políticos, ou seja, os militares tinham um caráter moderador.
"A situação brasileira certamente requeria uma liderança hábil e um estadista capaz."
Em 1964, diferentemente, os militares sentiram-se em condições estruturais para a tomada e poder na transição do governo civil falho, governo que poderia colocar em risco a própria hierarquia militar. A medida, para o autor, foi de certa maneira preventiva, porque Goulart poderia dar um golpe com os comunistas e criar exércitos populares de suboficiais. A tese de Stepan, porém, é problemática quando coloca a participação militar como uma “variável dependente” do sistema político global e sua análise da ideologia militar do período é superficial. Wanderley Guilherme dos Santos faz outra análise elaborando um modelo teórico que leva em conta a instabilidade governamental do período, utilizando o número de ministros e chefes de empresas estatais demitidos e a polarização do governo em grupos radicalizados, ao invés de um perfil conciliatório e moderado do legislativo. Argelina Figueiredo, de outra forma, atribuiu grande importância à recusa de determinismos para o golpe, como fenômenos econômicos e políticos que levariam a inevitabilidade da crise. Recusa também a centralidade do papel da burguesia conspiratória, pois a existência de uma conspiração não é condição para um golpe. Argelina deixa clara a existência de opções abertas de ação política. A análise marxista por outro lado, de Jacob Gorender, funda a explicação da crise nos interesses da burguesia industrial, que alterou a estrutura política de acordo com a necessidade de classe, em uma reforma moderadora, defendendo-se também da ameaça de uma reforma de base. Segundo Dreifuss, foi preciso construir uma rede de apoio desses grupos privados com as forças armadas em uma conspiração política, ou seja, um movimento civil-militar. Se a preparação do golpe foi uma parceria, o golpe em si foi claramente militar. Glaucio Ary S. faz uma crítica ao economicismo do pensamento político através da coleta de depoimentos dos militares. Enfatiza que “o golpe foi uma conspiração dos militares com o apoio dos grupos econômicos e não uma conspiração dos grupos econômicos com o apoio dos militares” (FICO, Carlos. 2004. “Versões e Controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar”. In: Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 24, n. 47, pág. 53).
    As causas para o golpe de 1964 são, dessa forma, resultado de diversas situações e crises sucessivas, com causas múltiplas, acordos e receios de diferentes atores políticos com interesses próprios em uma complexa rede de interferência.

Bibliografia
1. FICO, Carlos. 2004. “Versões e Controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar”. In: Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 24, n. 47, pág. 30.
2. FICO, Carlos. 2004. “Versões e Controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar”. In: Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 24, n. 47, pág. 32.
3. FICO, Carlos. 2004. “Versões e Controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar”. In: Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 24, n. 47, pág. 34.
4. FICO, Carlos. 2004. “Versões e Controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar”. In: Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 24, n. 47, pág 34.
5. FICO, Carlos. 2004. “Versões e Controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar”. In: Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 24, n. 47, pág. 35.
(FICO, Carlos. 2004. “Versões e Controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar”. In: Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 24, n. 47, pág. 33)
(FICO, Carlos. 2004. “Versões e Controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar”. In: Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 24, n. 47, pág. 53)

quarta-feira, 6 de março de 2013

“Toda nudez será castigada” (1973) de Arnaldo Jabor - opinião

“Toda nudez será castigada” (1973) de Arnaldo Jabor




Prostituta Geni
Entendo o filme “Toda nudez será castigada” como indicado no ínicio: pelo fim. A tragédia de Geni é a dor das pessoas que não são correspondidas. Pessoas que conhecem o amor, que alcançam o ser amado, que recebem promessas de amor, mas ao mesmo tempo não sentem-se correspondidas pois essa sensação é exterior ao íntimo delas. A ambiguidade das relações de Geni esta presente em todas as personagens que ela se relaciona. O pai que ama e quer casar é também o pai que recusa toda e qualquer relação com uma prostituta. O filho homossexual adolescente é aquele que representa o grande amor, a redenção de uma mulher madura.
Mesmo geni é ambigua pois sofre de amor pelo pai, pelo filho, pela falta de amor. Cria paixões amorosas em seus clientes e mesmo assim continua sentimentalmente sozinha. Apoia-se em cada chance de afeto e sofre por cada chance de afeto.
As tias da história agem como as bruxas de Macbeth comentando pontualmente sobre Geni: primeiro como culpada, prostituta. Redimida pelo casamento com o pai e contrato secreto com o filho, é alçada pelas bruxas/tias ao posto de mulher honrada, cuja virgindade será perdida em matrimônio.
A viagem do filho também é um reflexo do desejo ambiguo de Geni. No começo era visto como necessário ao sucesso de seus objetivos, de seu casamento e felicidade e no momento seguinte é enxergado como o colapso final das relações e motivo de seu futuro suicídio.
O filho é também alvo da ambiguidade opinativa de Geni, porque esta entra em contato com ele como a figura protetora, aquela que pode salva-lo do seu trauma, ou seja aparece então como em uma posição superior e sente pena do rapaz. Em um segundo momento Geni depende emocionalmente do garoto, sendo ele o grande amor de sua vida e o responsável por sua redenção. O tributo para isso é sua própria carne, é a traição de si mesma, de suas opiniões e valores e a traição do pai. O suicídio é o corte de sua carne, o resultado final dessa falsa redenção que dependeu do sacrifício de si para a concretização do sonho de se casar e ser amada. A ambiguidade de Geni é mais uma vez demonstrada pois mesmo a sua falsa redenção é uma redenção verdadeira. Afinal Geni está apenas seguindo seu desejo e suas motivações e agindo conforme a situação, mesmo que isso acabe sendo uma ação contrária as suas motivações anteriores.
A tragédia de Geni é o medo do estar sozinha, da autosuficiência emocional. A liberdade da não existência de laços emocionais aterroriza a personagem. De sua história só é dito que sua mãe havia morrido de cancer. As únicas pessoas em seu casamento são figuras neutras do mundo da prostituição: a bicha e a prostituta figurante. Nesse sentido Geni surge novamente em sua figura dupla, por um lado livre de laços emocionais e prostituindo-se, e por outro lado perseguindo desesperadamente e visceralmente as figuras amorosas de sua cosmologia. Por fim, o suicídio é também seu último deboche aos laços emocionais, sendo a validação de sua liberdade em relação ao pai/filho e, novamente, ao mesmo tempo, a comprovação da importância de tais laços em sua vida.