quinta-feira, 5 de abril de 2018

Minha formação e outras questões

Há exatos dois anos eu parti de minha cidade natal para uma cidade desconhecida, com o intuito de estudar em uma Universidade de outra região, conhecer um pouco esse outro lugar possível e escapar da realidade a qual estava aprisionado. Não que fosse uma realidade trágica ou mesmo tão angustiante, porém todos os que nasceram e viveram suas vidas em cidades grandes, megalópoles, sabem do sofrimento que é viver sempre em competição com os demais e correndo atrasado para pagar contas. Aqui também vivo atarefado para garantir o mínimo de dignidade (moradia, alimentação), mas ao menos garanti meu tempo livre por viver em uma cidade pequena onde não se perde tempo em locomoções diversas, de trens que parecem verdadeiros cargueiros a onibus lotados... Quando cheguei percebi que cursar engenharia seria insustentável porque não teria auxílios e teria que me manter por mim mesmo, meus pais me ajudam com pequenas quantias e mesmo essas quantias me soam como sacríficios que preferia não precisar fazê-los passar. A rotina de ser um estudante e também um trabalhador de base (sou garçom) é completamente incompátivel com cursos integrais. Tive que optar pelo dinheiro, uma vez que sem dinheiro não se come e perde-se um teto. Como posso comprar um computador se no próximo mês posso parar na rua e na marginalidade? Como posso comprar um computador se o dinheiro que consigo vai servir para comprar o gás? Enquanto a luz e a água tem cortes mensais, com posterior pagamento de multa. Por essas e outras penso em largar tudo e fugir. Largar tudo não seria a confirmação do destino pessimista que muitos esperam? Esperam que eu desista porque até agora fui infrutífero. Querem produtividade nessa economia. É possível com determinado planejamento e sabendo o que fazer com pouco dinheiro. Pois bem, resolvi voltar para minha área de primeira graduação, ciências sociais, e entrei na licenciatura. Estar na universidade é uma forma de me garantir um mínimo de resistência à total indigência. Estou refazendo todos os processos pelos quais fui indeferido no passado. Hoje tenho tido dificuldades em controlar minha raiva e revolta, acabo descontando em pessoas que não me atingem diretamente. Na fila da PRAE, com a assistente social ou burocrata concursada, um rapaz visivelmente da classe média quis indagar o que era o meu problema, pois não reconheceu uma fila ou ordem de chegada. Respondi logo que não era da conta dele e que ele esperasse na fila como todos os outros. Não precisava ter respondido assim. Aposto que daqui pra frente tenho alguém que me odeia e nem mesmo o conheço. Enfim, muitas questões, aguardo os pedidos por um mínimo de permanência nessa universidade. Como querem que eu estude e me comprometa com as aulas, se meu único trabalho é no mesmo horário das aulas? Como querem que eu estude se minha casa fica sem luz, ou sem internet? Porque moramos em repúblicas ou casas compartilhadas que não se mantém justamente por falta de dinheiro ou desemprego de alguma das partes. Quem vai cobrir o aluguel faltante do fulano que se mandou sem pagar nada? A nossa conta de internet? Então pagamos a conta de internet e ficamos sem o aluguel... É esse o tipo de vida, gentrificação social constante, por não existir formas das pessoas se manterem por muito tempo, salvo se estão empregadas e caso esse emprego não seja no mesmo horário das aulas. A maioria dos empregos de base é em regime integral. Eles esperam que você trabalhe do começo da tarde e até a noite... Quem pode comprometer tanto tempo assim se precisa estudar? Uma das formas possíveis foi investir uma quantidade de dinheiro em uma festa, que foi boicotada por todas aquelas parcerias que diziam me ajudar. Ao menos hoje tenho pra mim como produzir uma festa, mas sem dinheiro algum para dar inicio. Preciso de no mínimo 300 reais, fora o valor do aluguel e comida do mês. Trabalhando aos fins de semana e sem auxílio. Enfim, como produzir artisticamente no futuro sem um computador e sem um estúdio de produção que tenha estabilidade. Estabilidade não deveria ser o quarto dos fundos da casa dos meus pais, porque lá a liberdade também é limitada. E aqui onde seria possível não é, porque outras pessoas realizam os mais diversos boicotes. A minha república mesmo, vai quebrar em algum momento porque pretendem fazer com que nós paguemos pelos valores dos alugueis que não foram pagos de pessoas que simplesmente foram embora, sendo que ja é dificil pagar o proprio aluguel, logo não sei até quando eu resisto a essa situação, tenho pensado em levar o que tenho em excesso para São Paulo e voltar para cá em situação de total indepedência de bens materiais, fora o que pode ser utilizado para produção artistica (livros, computador, telas, tinta, etc).