quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Dissertação filosófica com base no Livro Primeiro: Do Capital, cap. II. – O Dinheiro.

.      O Dinheiro, segundo Marx, é o resultado do processo de circulação na forma M-D-M, porém neste momento, o dinheiro, como relação é ainda apenas o meio de troca, sendo o fim da relação a própria mercadoria. É aí que se dá o ponto inicial do processo onde o dinheiro se transforma de simples meio de troca para senhor da mercadoria, isto é, o dinheiro torna-se o fim da relação, sua meta final, sendo o processo descrito no formato D-M-D. Neste momento a aparência do processo é absurda, pois não se troca dinheiro por dinheiro¹. Na prática, entretanto, percebe-se que o dinheiro trocado por dinheiro não é uma relação de quantidades equitativas e sim uma relação de aumento de valor. Compra-se a mercadoria (e com ela todas as relações sociais embutidas) para revende-la mais caro. Outra definição para o Dinheiro é que este tem seu duplo aspecto como unidade de medida de valor e meio de circulação, pois trata-se de um equivalente geral das mercadorias. Além disso, o dinheiro é também a “encarnação imediata do trabalho geral, ao mesmo tempo que é, por seu conteúdo, “o agregado de todos os trabalhos reais. O dinheiro é a riqueza universal em seu aspecto individual” (MARX, Karl. O Capital. Livro I, volume I. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p135). O dinheiro, como medida de troca geral, é representado universalmente através do ouro e prata que, destruído, e submetido às trocas incessantes e transformações sucessivas, em um momento posterior, transformar-se-á em um símbolo de papel que representa o próprio símbolo do valor.
.      Durante o processo D-M, a compra da mercadoria pode ser realizada antes mesmo do momento da alienação da mesma mercadoria, sendo assim fica claro a diferença dos processos. Quando a mercadoria atinge sua função na troca pelo mediador Dinheiro, esta mercadoria é trocada quando alienada no momento de sua transformação de valor em uso em valor de troca, sendo este o primeiro momento, e a troca o momento posterior, à alienação. Agora, ao contrário, a mercadoria é trocada antes mesmo de sua alienação e antes mesmo até de sua própria reprodução. É o que ocorre, por exemplo, no pagamento antecipado². Não se trata mais da relação de compra e venda de mercadorias, mas da compra e venda sem a presença da mercadoria. Na forma M-D, o dinheiro é apenas a medida de valor entre as mercadorias. Em sua nova aparência, “o dinheiro funciona aqui como meio de compra, embora apenas projete diante de si a sombra de seu futuro modo de ser” (MARX, Karl. O Capital. Livro I, volume I. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p148).
.      O dinheiro se distingue do processo de circulação quando a venda não evolui para a compra, permanecendo sua transformação ainda como mercadoria de medida de valor e de troca, caso contrário, é como moeda que entrará no processo de circulação. O moeda efetiva-se na contínua acumulação em maiores ou menores quantidades, no curso de sua coagulação, incessante em dinheiro e de dinheiro em moeda³. O processo de compra e venda com vistas à acumulação do dinheiro traz a tona o novo conteúdo do dinheiro, a moeda em suspenso, diferenciando-se das moedas circulantes. A moeda retirada da circulação, o dinheiro, armazenado nas formas que possibilitam seu armazenamento, o estado de crisálida de ouro, torna-se o Tesouro dos povos. É o valor e grandeza das nações.
.      “Como tempo de trabalho objetivado o ouro é fiador da sua própria grandeza de valor, e como encarnação do tempo de trabalho geral é o processo de circulação que é seu fiador, que assegura sua ação contínua como valor de troca” (MARX, Karl. O Capital. Livro I, volume I. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p137). É ele mesmo o motor próprio da circulação, pois, como tesouro e símbolo da riqueza, o dinheiro converte-se no objetivo final da circulação. Vender sem cessar, ou seja, lançar as mercadorias continuamente em circulação, em razão da acumulação é a primeira condição do entesouramento. Sendo assim, a condição positiva se dará na aplicação no trabalho e a condição negativa do entesouramento se apresenta na poupança4.
.      A distinção do dinheiro em relação a moeda, acontece portanto em sua retirada da circulação na forma do tesouro e depois quando este retorna a circulação como negação do próprio meio-da-circulação e, finalmente, franqueando as barreiras da circulação interna se universalizando como equivalente geral, como o Dinheiro Universal5.
.      A acumulação do dinheiro não é só derivação inerente do processo histórico da forma D-M, mas também é motivado pelo desejo. Nas palavras do autor, “o dinheiro não é apenas um dos objetos da paixão de enriquecer, mas é o próprio objeto dela. (...) A paixão de enriquecer, ao contrário da paixão pelas riquezas naturais particulares ou pelos valores de uso tais como vestuário, as jóias, os rebanhos, etc., só é possível no momento em que a riqueza geral se individualiza numa coisa particular e pode, assim, ser retirada sob a forma de uma mercadoria isolada. O dinheiro surge, portanto, como objeto e a fonte da paixão de enriquecer.” (MARX, Karl. O Capital. Livro I, volume I. São Paulo: Nova Cultural, 1988. P141). Em vistas a acumulação é preciso, entretanto, que essa ganância seja diferenciada da avareza, pois é a ganância que moverá o desejo de alienar o produto em busca do dinheiro no momento da circulação, pois para o vendedor, o produto não representa valor de uso, apenas terá esse valor quando alienado. Mas para que este vendedor pague no prazo contratado de algum serviço ou mercadoria é indispensável que se tenha vendido seu valor. A venda transformou-se então numa necessidade social. A venda de seu produto tem agora como motivo e conteúdo o pagamento ao credor, conteúdo este que resulta da forma do processo da circulação. A mercadoria atinge sua finalidade como dinheiro, como fim em si, mostra-se como função econômica6.
.      Enquanto este processo da circulação se efetivar teoricamente, onde as grandezas positivas se compensam com as grandezas negativas, não há a menor intervenção do dinheiro efetivo, porque o dinheiro, nesse sentido, é apenas medida de intermediação entre os valores das obrigações recíprocas. O dinheiro é apenas moeda ideal de cálculo. A função do dinheiro como meio de pagamento encerra, nessa relação, uma contradição. “De um lado, se os pagamentos se compensam, o dinheiro atua apenas idealmente, como medida; de outro lado, quando se dá efetivamente o pagamento, não se dá como meio de circulação fugidio, mas como modo de ser estável do equivalente geral, como a mercadoria absoluta; em uma palavra, como dinheiro que penetra na circulação” (MARX, Karl. O Capital. Livro I, volume I. São Paulo: Nova Cultural, 1988. P152).
.      Nas sociedades onde o encadeamento de pagamentos e o sistema artificial de compensação se encontram desenvolvidos, como na sociedade burguesa, o dinheiro sofre uma transformação brusca, pois de sua figura etérea como medida de valor converte-se em dinheiro vivo ou meio de pagamento e é os momentos nos quais o curso destes pagamentos sofre uma interrupção de forma violenta e acontecem perturbações no mecanismo de sua compensação que surgem os fenômenos de crise do sistema monetário. O dinheiro como forma de pagamento do valor está diretamente relacionado aos metais preciosos como medida de valor, ou seja, está relacionado ao tempo necessário para sua produção, levando ao fato de que caso haja alguma alteração no tempo necessário, a medida de valor se alterará, valendo mais ou menos que o valor da época em que os contratos foram firmados. A função do dinheiro engendra portanto uma contradição pois se encontra em conflito em sua própria função como Dinheiro: como valor de troca autônomo e ao mesmo tempo em sua existência como mercadoria particular sujeita as alterações do tempo de trabalho requerido. A baixa dos valores do dinheiro como mediadores na circulação favorece dessa forma os devedores à custa dos credores e, no campo oposto, uma alta acaba por favorecer os credores às expensas dos devedores7.



Bibliografia

¹. MARX, Karl. O Capital. Livro I, volume I. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p134.
². MARX, Karl. O Capital. Livro I, volume I. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p147.
³. MARX, Karl. O Capital. Livro I, volume I. São Paulo: Nova Cultural, 1988. P136.
4. MARX, Karl. O Capital. Livro I, volume I. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p138.
5. MARX, Karl. O Capital. Livro I, volume I. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p154.
6.. MARX, Karl. O Capital. Livro I, volume I. São Paulo: Nova Cultural, 1988. P149.
7. MARX, Karl. O Capital. Livro I, volume I. São Paulo: Nova Cultural, 1988. P154.
 MARX, Karl. O Capital. Livro I, volume I. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p135, p137, p141, p148, p152.


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