quarta-feira, 6 de março de 2013

“Toda nudez será castigada” (1973) de Arnaldo Jabor - opinião

“Toda nudez será castigada” (1973) de Arnaldo Jabor




Prostituta Geni
Entendo o filme “Toda nudez será castigada” como indicado no ínicio: pelo fim. A tragédia de Geni é a dor das pessoas que não são correspondidas. Pessoas que conhecem o amor, que alcançam o ser amado, que recebem promessas de amor, mas ao mesmo tempo não sentem-se correspondidas pois essa sensação é exterior ao íntimo delas. A ambiguidade das relações de Geni esta presente em todas as personagens que ela se relaciona. O pai que ama e quer casar é também o pai que recusa toda e qualquer relação com uma prostituta. O filho homossexual adolescente é aquele que representa o grande amor, a redenção de uma mulher madura.
Mesmo geni é ambigua pois sofre de amor pelo pai, pelo filho, pela falta de amor. Cria paixões amorosas em seus clientes e mesmo assim continua sentimentalmente sozinha. Apoia-se em cada chance de afeto e sofre por cada chance de afeto.
As tias da história agem como as bruxas de Macbeth comentando pontualmente sobre Geni: primeiro como culpada, prostituta. Redimida pelo casamento com o pai e contrato secreto com o filho, é alçada pelas bruxas/tias ao posto de mulher honrada, cuja virgindade será perdida em matrimônio.
A viagem do filho também é um reflexo do desejo ambiguo de Geni. No começo era visto como necessário ao sucesso de seus objetivos, de seu casamento e felicidade e no momento seguinte é enxergado como o colapso final das relações e motivo de seu futuro suicídio.
O filho é também alvo da ambiguidade opinativa de Geni, porque esta entra em contato com ele como a figura protetora, aquela que pode salva-lo do seu trauma, ou seja aparece então como em uma posição superior e sente pena do rapaz. Em um segundo momento Geni depende emocionalmente do garoto, sendo ele o grande amor de sua vida e o responsável por sua redenção. O tributo para isso é sua própria carne, é a traição de si mesma, de suas opiniões e valores e a traição do pai. O suicídio é o corte de sua carne, o resultado final dessa falsa redenção que dependeu do sacrifício de si para a concretização do sonho de se casar e ser amada. A ambiguidade de Geni é mais uma vez demonstrada pois mesmo a sua falsa redenção é uma redenção verdadeira. Afinal Geni está apenas seguindo seu desejo e suas motivações e agindo conforme a situação, mesmo que isso acabe sendo uma ação contrária as suas motivações anteriores.
A tragédia de Geni é o medo do estar sozinha, da autosuficiência emocional. A liberdade da não existência de laços emocionais aterroriza a personagem. De sua história só é dito que sua mãe havia morrido de cancer. As únicas pessoas em seu casamento são figuras neutras do mundo da prostituição: a bicha e a prostituta figurante. Nesse sentido Geni surge novamente em sua figura dupla, por um lado livre de laços emocionais e prostituindo-se, e por outro lado perseguindo desesperadamente e visceralmente as figuras amorosas de sua cosmologia. Por fim, o suicídio é também seu último deboche aos laços emocionais, sendo a validação de sua liberdade em relação ao pai/filho e, novamente, ao mesmo tempo, a comprovação da importância de tais laços em sua vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário