O Trabalho Liberta ⛧
Blog for personal thoughts and mémoire on the web. "Arbeit macht frei" means "work sets you free". The slogan is known for appearing on the entrance of Auschwitz. I chose "o trabalho liberta", a portuguese version of the slogan, in the blog URL bcause it's a key concept to understanding our society, where work is the ideology of control and the capital working movement divide us and create an artificial competitive environment, not a true cooperative or collaborative one.
terça-feira, 16 de junho de 2020
Se alguém chegar aqui pelo menos pode me entender um pouco
Não escrevo isso para ninguém exatamente, talvez para mim mesmo no futuro. Existe memórias, mas existem momentos de completo repúdio ao passado. Queria me lembrar mais de tudo o que era bonito e importante, mas é mais fácil perder tudo do que manter um arquivo realmente. As vezes encontro uma foto da minha avó quando ela ainda andava e quando ainda tinha consciência, mas hoje em dia está apenas sendo mantida viva porque mesmo que biologicamente não esteja pronta para morrer, de que adianta acordar poucos minutos e voltar a inanição do alzheimer? Quando falam do alzheimer é um pouco difícil de entender. Eu nunca entendi. Continuo sem entender. É muito difícil lidar com alguém que continua vivo, mas não existe mais. Vai se perdendo aos poucos. Uma hora para até de falar. É um processo tão gradual que você não percebe o tempo que perdeu. Um dia você se dá conta que não tem mais volta. É pior do que a morte, porque a morte é como se fosse o golpe final de uma série de mortes mais calmas. Ela tem 94 anos. Talvez 96... Não merecia morrer assim. Morreu agora em meio a pandemia. Dizem que morreu. Eu sou ateu, mas as vezes acho que talvez exista sim alguma força, algum Deus, a imagem é o que menos importa. Lembro de uma época que eu não tinha para onde ir, e uma das minhas namoradas quis se casar comigo, porque me amava, eu era a saída para todos os problemas dela, mas era tão assustador não ter controle nenhum para aquela situação. Eu gostava dela, do flerte inicial, de estar conhecendo alguém que eu poderia conversar, era até um alívio, mas eu não queria casar. Nem manter uma relação com mulher alguma. Não naquele momento. Pra piorar eu tinha certeza que ela estava possuída pelo capeta. Tive certeza. Não que ela não fosse uma pessoa legal ou interessante, mas acho que algo ali me fez alucinar ou escutar vozes. Lembro que rezei perguntando para mim mesmo ou para Deus, para a força invisível, se aquele era mesmo o caminho que eu deveria trilhar naquele momento, e intimamente eu sabia que não, porque não a amava eternamente, gostava sim, mas não era amor, não queria me casar, não queria a responsabilidade de uma relação séria jogada no meu colo, não queria depender de mulher nenhuma, mais uma vez, outra vez, mais uma de muitas vezes, mas a prova foi quando eu tive dúvidas de minha sanidade e escutei ela falar como o demônio, era uma outra voz, me respondia perguntas, debochava do que eu sabia até o momento. Foi o momento que eu decidi partir. Também não queria ser boneco sexual de ninguém. Fui embora, com o outro, o ex dela. Foi a mesma coisa ou pior. Foi pior. Hoje eu não acho que eu gostasse dele. Achei em algum momento, mas a sério não. O que faz de mim uma pessoa muito ruim, porque eu desprezava ele, no fundo achava um bosta. O que faz de mim um hipócrita. Eu não sei se ele chegou a gostar de mim, acho que era uma coisa de posse, ele me trazia para perto, mas na época eu estava sim envolvido com outras pessoas e posso ter sido sim uma pessoa muito ruim, do tipo de parecer gostar, mas sair com outro cara bem mais bonito ou ficar com alguma amiga e ignorar ele por semanas, e isso me faz hipocrita também, porque eu nao gosto de estar com mulheres, as vezes sinto falta de algumas e por outro lado prefiro homens, mas desprezo intimamente a todos, a unica vez que me apaixonei e quis me casar realmente com um homem, o mesmo fugiu de mim, assim como eu fugi daquela mulher que fez uma casinha pra mim e que por algum motivo eu sei que estava sim possuída pelo próprio deus do submundo, sobre o rapaz que eu fugi para escapar dele, não acho que o mesmo gostasse de mim, ele também nunca se importou, acho que eu poderia ter me poupado do tempo que perdi com ele. Não me acrescentou muitas coisas, por outro lado piorou minha auto-imagem, pela hipocrisia que foi ter que aguenta-lo. Aceitação é parte do processo, espero me construir melhor das próximas vezes. Voltando, sobre Deus, eu sou ateu, mas acho sim que talvez exista alguma coisa, as vezes acredito que existe algo, é difícil acreditar depois do nazismo, é difícil acreditar com nossas fábricas, com o nosso gosto por sangue animal, mas as vezes acontecem essas provas de que existe algo mais, por outro lado ver que uma pessoa que era boa, tranquila, calma, uma pessoa que já tinha sofrido tanto na vida acabar com alzheimer é um pouco cruel demais, ainda mais no meio de uma pandemia. 96 anos. Eu choro se eu vejo fotos com ela quando ela ainda andava e era consciente. Ela gostava de mim. Agora nem posso visita-la, por causa da doença mundial, desse vírus maldito. Para os médicos é hora de partir, mas por mim que ela se recuperasse mesmo, como um milagre, voltasse a andar, se lembrava de quem ela é, respondesse perguntas. Falam que acontecem milhares de milagres todos os dias, que os milagres são pequenos detalhes que não percebemos e com certeza, mas o milagre de ter conhecido aquela pessoa maravilhosa no passado não se compara a tragédia que é ver esse final e só lembrar de certos momentos ao encontrar uma foto perdida ao acaso. As lembranças morrem mais rápido do que as coisas. Eu pessoalmente não quero que a lembrança seja a última vez que a vi, antes disso tudo. Todos os anos antes de viajar eu sabia que talvez fosse a última vez que a encontraria em vida, mas não esperava uma situação em que ela ainda está viva, mas não posso visita-la, não posso encontrar com ela, e talvez dessa vez seja mesmo o final. Espero sim por Deus, existe essa esperança cega lá no fundo de que as coisas poderiam voltar a ser o que eram antes, mas sinceramente nem a casa se parece mais com a casa que existia na minha infância. A tsuki, a cachorrinha morreu de idade por esses tempos, praticamente durante o internamento da minha avó... As coincidências precisam também serem cruéis? Eu não entendo porque essas mudanças exigem tantos sacrifícios. A minha última viagem me trouxe muitos ganhos emocionais, amadurecimento, por outro lado me custaram um ano perdido que poderia ter aproveitado ao lado da minha avó, mas em quais condições seria esse tempo? Melhor viver um ano longe, ignorando tudo, do que acompanhar uma pessoa definhar aos poucos. Isso é o Alzheimer. É bem cruel. Ela merecia lucidez e morrer um dia dormindo, não inconsciente com breves períodos de lucidez e lucidez essa que não existe mais controle sobre o próprio corpo. A psoríase, uma doença de pele que eu tenho, pele e articulação, ela aparece ou piora as vezes, é um pouco isso. Um dia meu dedo começou a doer muito, independente do remédio que eu tomasse. Hoje tenho dedos tortos. A articulação inflama, depois calcifica e pronto, alterou o formato das mãos, dos pés. É horrível. Acontece do nada, não existe controle algum. Hoje não sinto mais dor alguma nas articulações, mas toda vez que sinto alguma dor tenho medo de entortar ainda mais e acabar com as juntas travadas como daqueles idosos: eu ainda não sou idoso, mas ainda assim sofro com uma situação que não tenho controle algum. E é muito cruel não ter controle algum. Confiar cegamente. Um dedo da mão e dois dedos dos pés tiveram essa psoríase articular. Ficaram levemente tortos depois de semanas de dor intensa e inflamação interna. Não chega a ser como daqueles idosos que tiveram gota, mas é parecido. Muita gente não percebe esses detalhes, tem gente que acha que a vida é fácil para todos os outros, mas queria saber quantos aguentariam tudo o que passo ou já passei, por outro lado a vida é realmente um grande sofrimento para todos os que tem consciência e o progresso para a morte é o caminho de todos nós, por outro lado é assustador assistir o próprio corpo definhar, ano após ano.
quinta-feira, 11 de junho de 2020
A Lenda de Keret - Mito caanita / babilônico da antiga cidade perdida de Ugarit
O rei Keret, de Hubur (ou Khuburu), apesar de ter a reputação de ser filho do próprio grande Deus El, foi atingido por muitos infortúnios. Embora Keret tivesse sete esposas, todos elas morreram no parto ou de várias doenças ou o abandonaram, e Keret não teve filhos sobreviventes. Enquanto sua mãe teve oito filhos, Keret foi o único a sobreviver e ele não teve membros da família para sucedê-lo e viu sua dinastia em ruínas.
Keret rezou e lamentou sua situação. Enquanto dormia, o deus El apareceu a Keret, que lhe implorou por um herdeiro. El disse a Keret que ele deveria fazer guerra contra o reino de Udum e exigir que a filha do rei Pubala de Udum lhe fosse dada como esposa, recusando ofertas de prata e ouro como preço da paz.
Keret seguiu o conselho de El e partiu para Udum com um grande exército. Ao longo do caminho, ele parou em um santuário de Athirat / Asherah, a deusa do mar, e rezou para ela, prometendo dar-lhe uma grande homenagem em ouro e prata, se sua missão tivesse êxito.
Keret então sitiou Udum e, finalmente, prevaleceu e forçou o rei Pubala a dar sua filha (em algumas traduções, neta), Hariya, a Keret em casamento. Keret e Hariya foram casados e ela lhe deu dois filhos e seis filhas. No entanto, Keret renegou sua promessa à deusa mãe do mar Athirat de lhe prestar um tributo de ouro e prata após seu casamento.
[Nesse ponto, há uma interrupção na história devido a danos nas tábuas-texto]. Quando a história recomeça, os filhos de Keret cresceram.
A deusa Athirat ficou brava com a promessa quebrada de Keret e o atingiu com uma doença mortal. A família de Keret chorou e orou por ele. Seu filho mais novo, Elhu, reclamou que um homem, que se dizia ser filho do grande deus El, não deveria morrer. Keret pediu apenas que sua filha Tatmanat, cuja devoção era a mais forte, orasse aos deuses por ele. Enquanto Tatmanat orava e lamentava, a terra primeiro ficou seca e árida por muitos anos, mas acabou sendo regada por uma grande chuva.
Na época, os deuses estavam debatendo o destino de Keret. Ao saber da promessa quebrada de Keret para Athirat, El ficou do lado de Keret e disse que o voto de Keret era irracional e que Keret não deveria ter cumprido. El então perguntou se algum dos outros deuses poderia curar Keret, mas nenhum estava disposto a fazê-lo. Então El realizou alguma mágica divina e criou uma mulher alada, Shatiqtu, com o poder de curar Keret. Shatiqtu esfriou a febre de Keret e curou-o de sua doença. Em dois dias, Keret se recuperou e retomou seu trono.
Então Yassub, o filho mais velho de Keret, se aproximou de Keret e o acusou de ser preguiçoso e indigno do trono e exigiu que Keret abdicasse. Keret ficou zangado e lançou uma terrível maldição sobre Yassub, pedindo a Horonu, o mestre dos demônios, para esmagar o crânio de Yassub.
Nesse ponto, a história termina e o final do texto parece estar faltando. Embora o fim da lenda seja desconhecido, muitos estudiosos assumem que depois Keret perdeu todos os seus filhos, exceto uma filha, que se tornou sua única herdeira.
Épico de Aqhat (O conto de Aqhat) - Lenda caanita da cidade perdida de Ugarit
Danel é descrito como um "governante justo" (Davies) ou "provavelmente um rei" (Curtis), fornecendo justiça a viúvas e órfãos. Danel começa a história sem um filho, embora a falta de material desde o início da história não torne claro se Danel perdeu filhos ou se ele simplesmente ainda não teve um filho. Em seis dias sucessivos, Danel faz oferendas em um templo, solicitando um filho. No dia sétimo, o Deus Baal pede ao Deus supremo El que forneça a Danel um filho, com o qual El concorda.
As orações de Danel aos deuses são respondidas com o nascimento de Aqhat. O agradecido Danel realiza um banquete para o qual convidou o Kotharat, grupo divindades femininas associadas à gravidez comuns aos Caanitas.
Uma lacuna aparece no texto. Depois disso, Danel recebe uma reverência do deus Kothar-wa-Khasis, que é grato a Danel por lhe proporcionar hospitalidade. De acordo com Fontenrose, a Danel é dado um arco quando Aqhat ainda é um "bebê", enquanto Wright lê a história depois que Aqhat "cresceu".
Depois de uma parte faltante do texto, a história recomeça como Aqhat, descrito por Louden como "agora um jovem rapaz", está comemorando um banquete no qual várias entidades estão presentes.
Aqhat, que agora tem o arco, presente de infância de seu pai, é oferecida uma recompensa pela Deusa Anath se ele o der a ela. Anath oferece Aqhat primeiro ouro e prata, mas ele recusa. Ela então oferece a imortalidade, mas ele se recusa novamente. Ao fazer suas ofertas, ela usa uma linguagem que provavelmente implica uma oferta de natureza sexual também. A recusa dele é desrespeitosa: ele diz a ela para ir buscar um arco com Kothar-wa-Hasis e diz que uma mulher não tem que fazer negócios com essas armas. Ele insiste que a imortalidade é impossível: todos os humanos devem morrer. Anath, indignada, sai para falar com o Deus supremo El.
Anath reclama com El, de acordo com Wright "aparentemente recebendo sua permissão para punir Aqhat" pela forma desrespeitosa de usa recusa. A resposta inicial de El, se ele der uma, não é legível devido à natureza danificada do tablet, mas o tom de Anath passa de um inicial em respeito polido para terríveis ameaças violentas contra o próprio El. Relutantemente, chantageado, El concede a Anath licença para fazer o que ela deseja.
Anath então mata Aqhat. O personagem que mata pessoalmente Aqhat é Yatpan, descrito por Vrezen e Van der Woude como "um dos guerreiros de Anath", mas por Pitard simplesmente como "um de seus devotos". Yatpan, magicamente transformado em uma águia, ataca Aqhat e o mata.
Aqhat morre, e Anath se desespera, expressando arrependimento por sua morte. Embora o texto neste momento seja fragmentário, isso indica que seu arco foi quebrado no incidente e Anath também expressa sua angústia pela perda do arco cobiçado, em termos ainda mais fortes. Ela também lamenta que, devido ao assassinato, as colheitas em breve começarão a falhar.
Enquanto isso, Danel, que não percebe que seu filho está morto, continua cumprindo seus deveres judiciais no centro da cidade. Sua filha Paghat percebe que uma seca começou e que aves de rapina estão circulando em sua casa. Ela sente uma profunda tristeza.
Nesse ponto, o texto contém uma linguagem sobre as roupas de Danel sendo rasgadas, indicando que Paghat rasgou as roupas de Danel ou que Danel rasgou suas próprias roupas de luto pela seca. O texto faz Danel rezar pela chuva, seguido por várias linhas sobre uma seca que durou sete anos (o que é difícil de interpretar porque as tábuas estão danificadas). Danel vai para os campos, expressando seus desejos de que as lavouras cresçam e expressando esperança de que seu filho Aqhat retorne e faça a grande colheita, indicando que ele ainda não percebe que Aqhat morreu.
Nesse ponto, dois jovens aparecem e informam a Danel e Paghat que Aqhat foi morto pela Deusa Anath. Vendo abutres no alto, Danel chama Baal, pedindo a Baal que derrube os abutres, para que ele possa abri-los e procurar os restos mortais de seu filho. Baal obedece, mas Danel não encontra partes do corpo de seu filho. Danel vê o pai dos abutres, e Baal novamente leva o pai dos abutres para inspeção. Novamente, não há restos encontrados. Finalmente, Danel pede a Baal que derrube a mãe dos abutres, na qual ele encontra ossos e gordura de Aqhat. Danel enterra os restos que encontrou ao longo das margens do mar da Galiléia.
A morte injusta de Aqhat faz com que ocorra uma seca de anos. A irmã de Aqhat, Paghat, decide se vingar matando o guerreiro Yatpan.
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